O Movimento das Coisas aguardou 36 anos até ter a sua estreia no circuito comercial, em 2021. Em 1979, Manuela Serra partiu para a rodagem da sua primeira e única obra enquanto realizadora, porém a sua conclusão só foi possível cerca de seis anos mais tarde, em 1985. Exibido inicialmente no Festival de Mannheim, onde foi agraciado com o prestigioso prémio FilmduKaten, nunca encontrou o seu caminho para uma distribuição comercial apesar dos notáveis reconhecimentos.Nova versão restaurada a partir do negativo de câmara em 16mm conservado pela Cinemateca Portuguesa, o filme de Manuela Serra é um poema visual que mergulha na vida quotidiana de uma comunidade rural, embalado pela incrível banda sonora original composta por José Mário Branco.
Histórias do quotidiano de silêncio. Em caminhos desertos de vento inquietante, numa aldeia do Norte. Há um dia de trabalho atravessado por três famílias: quatro velhas, o campo, o pão, as galinhas e, a lembrar-nos, clareiras de histórias velhíssimas de gestos saboreados em mineralógicas palavras. Uma família de dez filhos numa quinta mergulha na largueza do tempo, no gesto todo do trabalho, o pai corta uma árvore. Mais longe, a água do rio habitado por gente, numa barca, o sol, e o largo da aldeia, aponte em construção, a varanda, a refeição, a densidade e o misticismo ao domingo, a missa e a feira: ritualizada ao sábado. É um respirar a vida, usando o campo como o meio numa aldeia do Norte, de gestos antiquíssimos e pousados. É uma paragem sobre a vida através de: coisas e a sua deslocação no tempo; valores; silêncios.